quarta-feira, 1 de abril de 2015

Ética à Aldeota

O livro-tabu: uma nobiliarquia urbana
de fraudulenta cepa

Há uns 50 anos, no seu insuperável "Aldeota", o grande Jáder de Carvalho já descascava a origem criminosa de grandes fortunas de Fortaleza e do Ceará - baseadas, sobretudo, na pilhagem imobiliária e no contrabando. Sobre o livro, aliás, ainda hoje pesa a insustentável leveza do silêncio de boa parte da imprensa local e dos circuitos literários tupinambás. 
A lembrança de Jáder e do livro deve-se ao fato de que, recentemente, seguidas operações da Polícia Federal e do Ministério Público, por aqui e alhures, têm confirmado seu vaticínio e lançado luzes sobre outras tantas figuras do nosso "high society" de fraudulenta cepa. A mesma elitezinha canastrona que vai às ruas pedir "ética" e clamar pelo "fim da corrupção" - aquela turma que, como bem diz Tom Zé, faz suas orações uma vez ao dia e depois manda a consciência junto com os lençóis para a lavanderia -, vira e mexe, de uns tempos pra cá, vem escorregando em manchetes de jornal ou postagens da blogosfera e aparecendo de "grampo na mão".
Agora, digam aí: alguém acredita realmente que isso seria possível num governo tucano? Uma fauna de grande porte (incluindo, à direita e à esquerda, tubarões do poder econômico e girafas do poder político outrora inalcançáveis) começar a se enrolar na rede onde antes só se pescava piaba? Algúem imagina que o diretor de uma grande empreiteira ou um ministro graúdo, por exemplo, seriam presos ou ao menos investigados de forma mais contundente num governo como o de FHC e de seu engavetador geral da República? Alguém consegue visualizar grandes corporações multinacionais como as que foram flagradas na bacia das almas do Carf ou do trensalão tucano apanhados no pulo do gato por um eventual governo Aécio ou Serra?
Pois é. O Brasil está começando a colocar ao sol o fantasma da corrupção e outras perversões de seu caráter como nação (afinal, são 500 anos de mutreta querendo botar cangalha numa ainda jovem e incipiente democracia), o que deixa tantos tão incomodados. E isso só foi possível nos governos do PT. Mais até no governo Dilma, registre-se, do que no governo Lula. Mas em vez de um "Aldeota" revisitado, o que temos hoje como produção simbólica de nossa época é um sistemático e obtuso massacre midiático, que vai confundindo a opinião pública e amalgamando no imaginário de uma parcela do brasileiro médio - aquele sem grandes exigências intelectuais ou grandes apegos à política - a imagem do PT como "o criador da corrupção" e "o único partido corrupto do País".
Mas que ninguém se engane. O "petrolão" que acompanhamos hoje no Brasil (junto com outros clichês cínicos e desonestos criados para deslegitimar o projeto político do PT) não é mera semelhança com a "ameaça comunista" de Jango ou com o "mar de lama" de Getúlio. É, sim, uma estrutural, articulada e interessada coincidência a serviço dos que sempre roubaram à sombra frondosa dos bangalôs e palacetes citados por Jader.

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