sexta-feira, 3 de abril de 2015

A paixão de casa não faz milagre

Torcida do Ceará no PV: o ponto fora
da curva causa prejuízos à banca
Parafraseando Caetano, a paixão é senhora; desde que o futebol é futebol é assim. Tentar deslegitimar a paixão de um torcedor cearense por um clube de fora do Estado seria algo xenófobo e obtuso, que não compreenderia o fundamento mesmo do esporte. Nosso problema, portanto, não são os daqui que torcem por times de fora - em geral do Rio de Janeiro que, historicamente, se consolidou como o polo mais carismático do futebol brasileiro (em que pese a presença crescente dos times paulistas no coração dos torcedores de gerações mais novas).

As maiores paixões esportivas do Estado ainda são as duas principais forças das arquibancadas locais: Ceará e Fortaleza. E, apesar dos reveses em campo e de uma classe dirigente que - com algumas raríssimas exceções - não desembarcou no século XXI, no que diz respeito à dedicação e ao compromisso de alvinegros e tricolores com seus times, vamos muito bem obrigado.
Entretanto, nada mais interessante para o negócio do futebol, para os interesses das grandes corporações que regem esse mercado (com a famigerada CBF à frente de todas), do que um esporte “desterritorializado”, alienado de suas raízes, sua história e suas peculiaridades regionais. Sobretudo, num país continental como o Brasil. Por aqui, o “diferente”, o “exótico”, o ponto fora da curva, pode causar prejuízos à banca.
É nisso que certas mentalidades apostam e investem. A presença de times de fora em partidas caça-níqueis em outras praças é apenas uma das estratégias adotadas, o que, para muitos, divide a torcida entre a xenofobia e a alienação. No futebol, entretanto, a paixão não é algo que se explique, portanto, não é algo que se possa desconstruir. Noves fora a Copa do Nordeste, a nossa aguerrida Lampion's League, o objetivo da CBF é, sempre e justamente, não dividir a torcida. Seu sonho é ter o Brasileirão como um grande torneio Rio-São Paulo. E, para isso, ela trabalha fortemente para os santos de casa não fazerem milagres.

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