domingo, 22 de março de 2015

A Ponte

"A Ponte", do surrealista Afmach: um pêssego e um país


Para cruzá-la ou não cruzá-la 
eis a ponte

na outra margem alguém me espera 
com um pêssego e um país

trago comigo oferendas desusadas
entre elas um guarda-chuva de umbigo de madeira
um livro com os pânicos em branco
e um violão que não sei abraçar

venho com as faces da insônia
os lenços do mar e das pazes
os tímidos cartazes da dor
as liturgias do beijo e da sombra

nunca trouxe tanta coisa
nunca vim com tão pouco

eis a ponte
para cruzá-la ou não cruzá-la
e eu vou cruzar
sem prevenções

na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país.


Poema "A ponte", de Mário Benedetti, poeta e romancista urguaio

terça-feira, 17 de março de 2015

A libido reacionária

Reich: da inibição sexual ao medo de liberdade

Há um livrinho, chamado Psicologia de massas do fascismo, de Wilhelm Reich, que pode ser muito esclarecedor para esses dias, em que tantos - e não apenas "azelites" mas também setores expressivos da classe média que tanto se beneficiou das políticas de inclusão social dos últimos 12 anos -, foram às ruas defender sem maiores constrangimentos morais e intelectuais o golpismo, a "intervenção militar", a violência de gênero, entre outras bandeiras tão "democráticas" e "edificantes" - que, ao cabo, só se propõem mesmo a interditar a política, o desejo e a vida.

domingo, 15 de março de 2015

Diz que não fui por aí...

Pequenos fascistas italianos nos anos 40: a direita
como território opaco do esquecimento
Se alguém perguntar por mim, diz que não fui por aí. Não vou me juntar aos broncos nessa marcha da insensatez, nessa saturnália da direita festiva. E que festa pobre! Pobre de sentido, de verdade, de honestidade.
Os tais "homens de bem" reivindicam, no plano público, a moralidade e a ética que são incapazes de reproduzir no âmbito privado. Os "defensores da pátria" refugiam-se no patriotismo (o último refúgio dos canalhas, como se sabe), quando, a rigor, servem de correia de transmissão aos que querem vender nossas riquezas, alienar nossa auto-determinação. Os "pagadores de impostos" ostentam o discurso patológico da "ameaça comunista", quando, na verdade, só sabem viver por dentro e à sombra do Estado frondoso, maquinando "jeitinhos" e benesses que tornam nossa experiência capitalista um regime ainda mais doente: uma livre-iniciativa patrimonialista ou um patrimonialismo de mercado.