quinta-feira, 16 de junho de 2016

Rimbaud canta o Brasil



Em "Paris Repovoada", poema escrito logo após a Comuna de 1871, Rimbaud descreve o restabelecimento da vida burguesa parisiense após os 70 dias de uma "república proletária" na França, dizimada num dos maiores massacres da história.

Por aqui, o ciclo do PT no governo central esteve longe de nos tornar um imenso Quartier Latin dos tempos dos communards. Foi, a rigor, um governo majoritariamente liberal na economia (com pontuais mas decisivas intervenções do estado) e, com alguma boa vontade, de centro-esquerda na ideologia. Entretanto, demarcou um breve mas importante ciclo progressista e de conquistas de direitos que, apesar de inferior às promessas e expectativas de justiça social que trazia em suas bandeiras pré-2002, foi o suficiente para levar à histeria as pesadas estruturas conservadoras e reacionárias do País.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Se é pecado driblar...



A genialidade de Garrincha consistia no seu anti-drible. Em vez do movimento surpresa, da rota improvável, ele fazia-se herói da previsibilidade. Todos no estádio, a começar por seu marcador, sabiam que aquele cambota arredio, no momento crucial, iria dar o bote decisivo e inapelável: sempre pela direita. Todos estavam cientes que Garrincha, inexorável, iria passar pelo adversário e por quem mais lhe descombinasse o jogo. Sempre pela direita. Nenhuma surpresa no lance, mas nele cabia toda a beleza do mundo.

O camisa 7 imortal do Botafogo era assim. Fazia, com uma pureza diáfana, quase infantil, quase de não saber enganar o próximo, o que o futebol de hoje, entretanto, traz como seu grande vício, seu insuportável embaço. O ludopédio hoje não engana mais ninguém. Vivemos a era do anti-drible programático, da previsibilidade de gestos. Mas tudo como fraude, como a farsa de uma história que se repete.

terça-feira, 7 de junho de 2016

Bois



"Só
Com os meus bois,
Os meus bois que mugem e comem o chão,
Os meus bois parados,
De olhos parados,
Chorando,
Olhando...
O boi da minha solidão,
O boi da minha tristeza,
O boi do meu cansaço,
O boi da minha humilhação.
E esta calma, esta canga, esta obediência".


*Poema de Dante Milano e pintura de Rembrandt