sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Sete tópicos sobre o segundo governo Dilma (ou O Destino do Oroboro)

A serpente oroboro, símbolo da alquimia:
um governo que se consome aos poucos
1. Dilma chegará a dezembro tendo feito, nesse segundo mandato, um primeiro ano de governo pífio. Quisera eu classificar apenas como medíocre, mas seria desonesto dizer que não foi, no mínimo, muito ruim.
2. Não bastasse a articulação política mambembe (ou por conta dela), seu governo perdeu o peso institucional e, pior, a clareza de agenda. Qual um oroboro precário, só consegue correr atrás do próprio rabo e vai se consumindo aos poucos. Além disso, segue esfarrapando o tecido social que (ainda) lhe resta e insiste em escolhas equivocadas - sobretudo em relação à plataforma de campanha do ano passado. A principal delas, que poderá levar todo o restante de seu mandato para o ralo, a manutenção de Joaquim Levy - um neoliberal cínico, soldadinho do mercado financeiro -, no Ministério da Fazenda.
3. A expressiva redução da base de arrecadação, os juros altos, a nova dinâmica inflacionária e o ajuste fiscal feito exclusivamente nas costas dos trabalhadores e do setor produtivo nos levarão a um cenário extremamente complicado no ano que vem. Com um agravante: os efeitos do aumento do desemprego começarão a ficar mais visíveis no fim do primeiro trimestre de 2016. Quando o carnaval passar, portanto, a ressaca tende a ser maior que o usual. Enquanto isso, a economia seguirá paralisada. Amarrada, por um lado, pela agenda neoliberal do "Chicago Boy" Levy; e, por outro, pela incendiária crise política e institucional promovida pela direita, que tem no caos seu último recurso para voltar ao poder. Sem votos e sem projetos, a direita brasileira só consegue dar certo na medida em que o Brasil dá errado.
4. Com as fileiras partidárias cretinas que possui, a oposição de direita vem paralisando o País - esse o verdadeiro golpe em andamento - com a mesma engrenagem simbólico-financeira que secularmente embalou os interesses da "Casa Grande": grande mídia corporativa, setores da justiça e grande capital. O sistemático massacre midiático e a parcialidade despudorada de parcela do Judiciário e do Ministério Público são os dois gumes da mesma faca anti-petista que vai logrando êxito entre os incautos e sangrando a imagem do governo.
5. Setores do PT também se enredaram em erros gravíssimos, ajudando a alimentar a própria fogueira de descrédito do partido e do governo, com repercussões na esquerda de forma geral. Ainda assim, a sigla é a maior e mais representativa força partidária popular do País e poderá se recuperar dessa crise de imagem se fizer uma opção sincera e efetiva por sua (valorosa) militância. Resta saber de que lado a cúpula partidária vai sambar.
6. Apesar da crítica que faço a seu governo, é impossível não se solidarizar com Dilma diante dos ataques machistas, truculentos e misóginos de que ela é vítima diariamente, minuto após minuto, seja nas mídias sociais, seja nos bonecos inflados pelo que de pior há no pensamento reacionário brasileiro.
7. Votei em Dilma no ano passado e, mesmo diante do que está acontecendo, votaria novamente se mais uma vez a disputa fosse com Aécio Neves. O pior cenário de um governo Dilma ainda é muito melhor do que o "melhor" cenário de um governo tucano. É ignorância ou desonestidade não lembrar o que era esse país em 2002 e os inúmeros avanços sociais e econômicos que se sucederam desde então. Chavões como "ameaça comunista", "bolivarianismo" e outras bobagens do gênero são apenas recursos de oratória - volto a dizer, desonestos, simplistas e ignorantes - a que os filhotes da parceria Veja/Globo se agarram na hora de tentar "interpretar" a realidade que lhes cerca.

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