terça-feira, 16 de junho de 2015

Madrugador

"Aurora Boreal", de Michael Creese: o sonho é quando?

Para Antonio José Maia e Ronaldo Salgado

Madrugador,
o olhar acorda.
Escuro de um sobressalto.
Na dúvida,
já é cedo?
Ou ainda é ontem?
Pergunta a
musculatura
retesada.
Ainda é véspera?
Essa noite finda,
reminiscência só,
de si, teimando
em sonhos prescritos.

domingo, 14 de junho de 2015

O fantasma nazista

Na montagem, nazistas na Champs-Elysées, em Paris: ontem e hoje 

por Valton de Miranda Leitão*

O modelo nazista de poder político e soberania nunca desapareceu da cultura ocidental após setenta anos da derrota do regime nazista, na II Guerra Mundial. Os pressupostos do pensamento nazi ficaram embutidos na mentalidade conservadora de setores intelectuais e políticos do ocidente, ressurgindo em muitos momentos deste período e agora reaparecendo com redobrada força em vários países e no Brasil. A intolerância e o preconceito contra as minorias se reagudizaram no nosso País, principalmente após o último pleito eleitoral, e tomaram a forma de um sentimento terrivelmente destrutivo de ódio, cultivado como se cultiva uma planta rara.
O jornalista alemão Timur Vermes, no livro “Ele está de volta”, mostra de maneira ficcional, mas certamente amedrontadora, o ressurgimento da visão nazista de mundo. O tema é tratado como uma comédia, mas nas dobras do humor, encontramos a presença do inimigo político que Carl Schmitt categorizou como presença universal em qualquer processo envolvendo o poder.

domingo, 7 de junho de 2015

Prefeitura quer rasgar o Plano Diretor

Vista aérea de Fortaleza: em aceno ao mercado
imobiliário, prefeitura quer acabar com as ZEIS

Diga-me pra quem governas e eu te direi quem és; e, em certos casos, também quem são teus fiadores. Enquanto Fortaleza amarga uma crise sem precedentes nas chamadas áreas sociais do governo municipal (educação, habitação e, principalmente, saúde), bem como um grave retrocesso nas políticas de assistência social do município (vide a desconstrução de equipamentos como os CRAS e os CAPS), a prefeitura, através da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (SEUMA), vai desenvolvendo uma plataforma de leis e intervenções amplamente favoráveis ao mercado imobiliário e construtor, mas extremamente onerosas à democratização e ao controle do uso do solo urbano.
Na surdina, sem discutir com os movimentos sociais nem com a sociedade civil (o que tem sido a regra na gestão de Roberto Claudio), a Seuma pediu um parecer à Procuradoria Geral do Município (PGM) sobre a liberação de construção de imóveis situados nas Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) do tipo 3. A medida é um sonoro aceno político ao mercado construtor, mas também uma violência contra a essência do Plano Diretor Participativo (PDP), aprovado em 2009.

sábado, 6 de junho de 2015

Wally e Leminski

"Um escritor cujo gabinete se localiza nas dunas do barato...", "O futuro da poesia pode estar em Homero, por exemplo...", "O futuro da poesia é a recuperação de uma barbárie...", "Os poetas são todos profetas...". "Arte não tem nada a ver com entendimento..."
Wally Salomão e Paulo Leminski num encontro antológico sobre poesia, futuro e, claro, anos 80.


Millôr, um jornalista "sem fins lucrativos"

Millôr: "Nostalgia é nostalgia. Nem sempre é má. Só não dá quando
a vida toda ficou lá atrás, e já não era grande coisa". 

Em 2003, um jovem repórter entrevistava Millôr Fernandes para o jornal O POVO. Graças à generosidade de um amigo, esbarrei com essa entrevista pululando nos últimos dias pelas timelines do Facebook. Decidi reeditar por aqui para me reecontrar com a genialidade de um dos últimos grandes humoristas brasileiros. É o que segue...

Às vésperas de seu aniversário não-oficial de 80 anos, Millôr Fernandes, o mestre do humorismo brasileiro, diz que nunca brigou com ninguém na imprensa brasileira e que a idade reduziu seu potencial a 30%
Aos 18 anos, quando foi no cartório tirar a cópia da certidão de nascimento para finalmente fazer sua carteira de identidade, Milton Fernandes descobriu que, graças à caligrafia barroca do tabelião, seu nome fora registrado de um jeito diferente. No documento, a barra do t virara um acento circunflexo e o  n final ficara parecido com um r. Como a alteração do documento custaria 300 contos de réis, Milton achou por bem manter a nova grafia. Virou Millôr Fernandes.