quinta-feira, 16 de junho de 2016
Rimbaud canta o Brasil
Em "Paris Repovoada", poema escrito logo após a Comuna de 1871, Rimbaud descreve o restabelecimento da vida burguesa parisiense após os 70 dias de uma "república proletária" na França, dizimada num dos maiores massacres da história.
Por aqui, o ciclo do PT no governo central esteve longe de nos tornar um imenso Quartier Latin dos tempos dos communards. Foi, a rigor, um governo majoritariamente liberal na economia (com pontuais mas decisivas intervenções do estado) e, com alguma boa vontade, de centro-esquerda na ideologia. Entretanto, demarcou um breve mas importante ciclo progressista e de conquistas de direitos que, apesar de inferior às promessas e expectativas de justiça social que trazia em suas bandeiras pré-2002, foi o suficiente para levar à histeria as pesadas estruturas conservadoras e reacionárias do País.
Com a queda (temporária) da 'comuna petista', através de um despudorado golpe de estado, a vida parece estar voltando ao 'normal' nas consciências dos nossos 'boulevares' legalistas, trazendo consigo alguns traços que, desde sempre, pautaram nossa ideia de País: o entreguismo na economia, o viralatismo na diplomacia, a inadequação a valores efetivamente republicanos e o mandonismo nos modos (sobretudo, os da Justiça), entre muitos outros.
Em 1871, Rimbaud cantava contra os monarquistas e deputados entreguistas do governo provisório de Thiers. Seus versos também servem ao Brasil de hoje, que, aos poucos, vai voltando à normalidade dos "vencedores" (ou não?).
"Ah covardes, olhem lá! Desemboquem nas estações!
O sol enxugou com seus pulmões ardentes
Os bulevares que uma noite ficaram de Bárbaros aos milhões.
Vejam a Cidade santa, sentada no ocidente! (...)
Ó corações de sujeira, bocas de horríveis lesmas,
Funcionem mais forte, bocas de fedores!
Um vinho para esses torpes ignóbeis, nessas mesas...
Suas barrigas são fundidas por vergonhas, ó Vencedores! (...)
O Poeta tomará o fôlego convulsivo dos sem fama,
O ódio dos forçados, o clamor dos malditos;
E seus raios de amor flagelarão as fêmeas.
Suas estrofes bendirão: olhem lá! olhem lá! bandidos!
- Sociedade, tudo está restabelecido: - as orgias
Choram seus velhos gemidos aos bordéis antigos:
E o gás em delírio nas avermelhadas muralhas,
Queima sinistramente contra os azuis esmaecidos!"
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