quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Caravelas

Quando desci das caravelas, trouxe, na saliva bafienta, reza e vírus. Matei milhões, madruguei o holocausto tropical. No espelhinho ofertado ao pajé, apresentei-lhe em gotículas, o hálito azedo de minha genealogia assassina. Do alto dos meus, trapos e farrapos, anunciei-me dono da terra, dos rios, das serras e das estrelas, dos corpos. O mar bafejava o que era fora; o sangue marcava o que era dentro; e era meu. Trouxe a boa nova do ódio e da assombração, em nome do pai e da pátria. Perverti as guerras e coloquei cordão de isolamento no carnaval da mata. Outras métricas e rimas. Enjaulei onças, papagaios e despudores. E depois embarquei de novo. Partida e chegada. Fui exibir, nos salões fedorentos do reino de Portugal, aos nobres com pulseirinhas VIP que saiam nas colunas sociais, bons burgueses, essa exótica mercadoria: o esplendor da vida.

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